Encerramento Controverso da COP28 em Dubai: Desafios na Transição para Energias Sustentáveis e Impactos no Combate às Mudanças Climáticas

Encerramento Controverso da COP28 em Dubai: Desafios na Transição para Energias Sustentáveis e Impactos no Combate às Mudanças Climáticas


Texto elaborado pela Dra. Cintia Bettio:

A COP28 – Conferência da ONU sobre o clima, se encerrou em 12/12/2023 sem uma decisão sobre o futuro dos combustíveis fósseis – como o petróleo, o gás e o carvão.

O projeto rejeitado propunha reduzir progressivamente o uso destes combustíveis, até 2050. Veja: “reduzir”, não “eliminar”. Embora tal projeto tenha recebido a aprovação de quase 200 países, um pequeno bloco de nações, liderado pela Arábia Saudita, fez oposição ao documento. A Arábia Saudita é o maior exportador de petróleo do mundo. A COP28 foi realizada em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, sob a presidência de Sultan al-Jaber, CEO da companhia petrolífera dos Emirados Árabes Unidos.

Em uma fala em painel on-line durante a COP28, al-Jaber afirmou que a eliminação dos combustíveis fósseis não é uma estratégia “respaldada pela ciência” para atingir a meta, que é manter o aumento da temperatura global a um máximo de +1,5°C, idealmente, até 2050.

As conferências do clima tomam as suas decisões por consenso. Portanto, havendo oposição, o texto é modificado/reescrito. Apesar de todas as promessas e negociações, o mundo aumenta as suas emissões de gases de efeito estufa, e os especialistas alertam que, daqui até 2030, os compromissos de reduções propostos em Dubai representariam apenas uma parte das medidas necessárias.

O uso intenso de combustiveis fósseis como matriz energética no mundo intensifica a liberação de dióxido de carbono e outros gases nocivos à atmosfera. Essa emissão de gases contribui de maneira significativa para o aumento da temperatura do planeta.

A COP28 em Dubai deveria ser uma alavanca para o combate às mudanças climáticas, após a revisão do Acordo de Paris de 2015. Porém, estudiosos sobre o tema já falam em farsa, já que os grandes vilões, os combustiveis fósseis, ao fim e ao cabo, viraram os protagonistas nos últimos dias da Conferência.

O Acordo de Paris é um tratado internacional ratificado por 194 países e pela União Europeia. Compromisso mundial sobre alterações climáticas, prevendo metas para a redução da emissão de gases de efeito estufa, é de cumprimento obrigatório pelos países que o ratificaram, embora as metas nacionais sejam fixadas voluntariamente. Explicando: o que é voluntário é a definição das metas de ação, que são estabelecidas em cada um dos países, mas seu cumprimento é obrigatório, quando o país se compromete com estas metas.

Até agora, a COP28 foi cercada de controvérsias, inclusive no que diz respeito à participação do Brasil. Enquanto nosso Presidente apresentou indicadores positivos, como a redução do desmatamento em 22% neste ano e a redução das emissões de gases do efeito estufa, a participação na OPEP (grupo de países exportadores de petróleo) e a decisão de aumentar a exploração de petróleo geram um retrocesso.

A ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustiveis) realizou um mega leilão de exploração de petróleo e gás que coloca em risco terras indígenas e áreas de conservação da Amazônia, um dia após o fim da COP28, vendendo direitos de perfuração em 602 novas áreas de exploração, incluindo 21 na bacia do rio Amazonas. Especialistas apontam que as novas áreas do leilão poderiam resultar em emissões superiores a um gigatonelada de carbono, anulando os ganhos climáticos previstos para a próxima década.

Outras decepções foram a ausência dos presidentes dos dois países mais poluidores do mundo, respectivamente: Estados Unidos e China, e a declaração do Presidente da Petrobrás, Jean Paul Prates, de que a empresa será uma das últimas no mundo a parar de explorar o petróleo.

Fato é que já sentimos as consequências das mudanças climáticas, com as tragédias das chuvas torrenciais, calor extremo, pequenos ciclones, incêndios florestais. 2023 foi o ano mais quente da história do planeta desde que começaram as medições.

Ou começamos a levar a sério as mudanças climáticas, ou seremos os causadores de nossa própria destruição.

Fontes:

https://www.oc.eco.br/wp-content/uploads/2023/11/Acordo-de-Paris-Um-guia-para-os- perplexos-1.pdf

https://apublica.org/cop28 https://brasilescola.uol.com.br/geografia/acordo-paris.htm

Bispo, F. 2023. 21 blocos para petróleo e gás na Amazônia serão ofertados um dia depois da COP28. InfoAmazonia, 08 de dezembro de 2023

https://amazoniareal.com.br/o-leilao-do-fim-do-mundo-para-exploracao-de-gas-e-petroleo Publicado no Jornal Correio Livre de 14/12/2023

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